quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Oficina de Arqueologia Experimental






Todas as turmas do 5.º ano de escolaridade, da EB 2/3 Frei Caetano Brandão, no dia 29 de Outubro, assistiram a uma sessão teórica e outra prática sobre os povos recolectores, dinamizada pelo Arqueólogo Jorge Sampaio do Parque Arqueológico do Vale do Coa, no Museu D. Diogo de Sousa, conforme o seguinte horário:
9 horas – 5.º3 e 5.º4
11 horas – 5.º5 e 5.º6
14.30 horas – 5.º7 e 5.º8
16.15 horas – 5.º1 e 5.º2

domingo, 28 de outubro de 2007

Tibães não esquece o Patrono S. Martinho

A freguesia de Mire de Tibães não pode esquecer, de modo algum, a festa do seu padroeiro, S. Martinho de Tours, cuja imagem em terracota da autoria do monge beneditino Fr. Cipriano da Cruz (séc. XVIII) figura ao lado de S. Bento e S. Escolástica, na fachada da Igreja, ocupando três nichos ornamentados com frontões, pilastras e voluptas.


No calendário litúrgico, o dia de S. Martinho celebra-se a 11 de Novembro. Nasceu no ano 316, filho de um oficial romano, na Panónia (região da actual Hungria). O facto de o seu dia coincidir com a altura do calendário rural, em que terminam os trabalhos agrícolas e se começa a usufruir das colheitas (do vinho, dos frutos, dos animais) leva a que a festa deste Santo tenha toda uma componente de exuberância que actualmente tende a prevalecer.


O S. Martinho é também uma ocasião de magustos, de castanhas, da matança do porco, a data em que se inaugura o vinho novo, se atestam as pipas, parodiando cortejos religiosos em versão báquica, que entram nas adegas, bebem e convivem livremente.


Há muitos episódios lendários ligados a S. Martinho. Parece que em seu redor as coisas aconteciam sempre melhor, eram mais belas e mais cheias de inspiração: o mal transformava-se em bem, as pessoas tinham visões maravilhosas, a própria natureza tornava-se espelho da bondade e da vontade do Santo.


O mais conhecido dos episódios de S. Martinho é aquele em que partilha a sua capa com um pobre. Mas há quem também associe a ideia do Verão de S. Martinho ao facto milagroso de terem florido umas árvores quando o corpo do Santo foi levado de barco do sítio onde tinha morrido, para Tours onde foi enterrado.


De ser tão popular não podiam faltar os aforismas ligados a S. Martinho: no dia de S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho; pelo S. Martinho castanhas assadas, pão e vinho; Verão de S. Martinho são três dias e mais um bocadinho; em dia de S. Martinho atesta e abatoca o teu vinho.
Recordo a Festa de S. Martinho de 1933, cuja comissão de festas entregou ao Abade 111#00, dinheiro destinado ao fogo, mas que, naquele ano, não queimaram porque o coadjutor Padre Bento Alves Ferreira se encontrava doente. Nem, por isso, faltaram os Magustos nesse ano, no dia 16 de Novembro de 1933, para as crianças, no Largo do Anjo, com a presença das Senhoras D. Maria Amália Monteiro Vieira Marques Pádua e D. Berta Amália Araújo Esmeriz e no dia 26 de Novembro foi a vez dos adultos, na Capelinha de S. Bento, contando com a presença dos trabalhadores da Livraria Pax e do Tenente Alípio Vicente.


Também anualmente os moradores do Lugar da Barrosa, comunidade bastante unida, comemoram efusivamente o seu padroeiro. No presente ano de 2007, a paróquia, o Mosteiro e a Junta de Freguesia vão assinalar o seu padroeiro com um programa muito diversificado e rico culturalmente: um concerto pelo Ensemble de Sopros da Orquestra de Câmara do Minho; Reviver o Jantar dos Monges; Procissão; Missa solene; Conto Infantil «A lenda de S. Martinho»; terminando com o tradicional Magusto.



sábado, 27 de outubro de 2007

A FESTA DO CERCO EM TIBÃES

Remonta ao século XIX, a festa do cerco, mais conhecida por Festa ao Mártir S. Sebastião. O nome desta festa resulta do facto da procissão percorrer todos os lugares da freguesia. Em tempos remotos esta procissão chegou a iniciar-se no período da manhã.


Em 1882, um jornalista-forasteiro, descrevia esta festa muito arreigada no coração do povo:


«O estourar dos morteiros e o estrondo de duas bandas de música que chega a esta distância anuncia uma festa naquele convento. O sol ardente de Agosto parece querer esconder-se para não reflectir neste dia seus raios ardentes sobre a terra, já um pouco sequiosa e desejosa de um banho de chuva. Não falemos na majestade do edifício que outra Majestade se levanta na tribuna e, cercado de lumes ardentes e flores odoríferas, lá está o Rei dos reis. Os levitas entoavam seus cânticos ao Altíssimo, o santo sacrifício da missa principia, o incenso sobe até aos pés de Deus espalhando esse perfume delicioso em todo o âmbito do templo. À cadeira da verdade sobe o Rev.do Abade de Padim da Graça e fala da vida e virtudes do Mártir S. Sebastião e incita os fiéis a seguirem o exemplo deste Soldado da Cruz. Pelas 6 horas da tarde de Domingo, 13 de Agosto passado, depois de havermos visto sair da Igreja de Tibães o Cerco de S. Sebastião, que todos os anos se fazem naquela freguesia. Baniram dele os legendários guiões que flutuavam a grande altura e ficaram só os vistosos andores de plumas e espelhos. Eram ao todo cinco - Senhor da Agonia, S. Sebastião, S. Gens, S. António e Senhora do Ó. Na frente seguia uma banda de música e outra no couce da procissão, que vista das janelas do convento apresentava um belo efeito com o reflexo dos espelhos nos andores e o flutuar das bandeiras e opas encarnadas, e com o redemoinho de homens e mulheres, estes com seus chapéus d’abas e paus de lodo e aquelas com suas saias de variadas cores e garridos lenços de seda».


Em 1933, a festa de S. Sebastião realizou-se no dia 16 de Julho. Do programa constava: missa cantada a duas vozes pelo orfeão do patronato; sermão; procissão com 5 andores ricamente armados e 7 estandartes de Tibães e freguesias vizinhas; uma longa fila de anjinhos; o coro das nove virgens e duas bandas de música.


Em 9 de Agosto de 1997, foi apresentado o livro O Cerco, uma festa de Mire de Tibães, sob o patrocínio do Ministério da Cultura. Simultaneamente foi inaugurado uma exposição sobre esta festa dedicada ao mártir S. Sebastião, com materiais cedidos pelos habitantes da freguesia.


EFEITO CHICLETE

Do passado surgem constantemente novas pistas que alimentam e vitaminam operações do presente.
As máximas que cruzam os tempos, que nos devem levar à redescoberta do passado, entre nós submetem-se ao puro efeito chiclete: prova-se, mastiga-se e deita-se fora.
Vem o caso a propósito de uma experiência com o ensino profissional, ocorrida neste cidade, no Colégio de S. Caetano, verdadeira escola pioneira neste tipo de ensino e admirada até por Ministros da Educação. Estamos a recordar o que escreveu D. António da Costa de Sousa Macedo quando visitou este colégio: «Aquele silêncio falava de amor. Aquelas paredes pareciam paredes amigas que me abrigavam do mundo e me diziam – aqui respira-se à vontade -. O espírito de D. Frei Caetano Brandão perfumava o edifício e a alma sentia-se ali numa atmosfera que dulcificava» (No Minho, 1874).
Muito cedo, o colégio revelou intenções de criar uma escola experimental de agricultura. A estas ideias não são indiferentes duas referências: a primeira, relacionada com o notável relatório apresentado no parlamento, quando Ministro das Obras Públicas o Sr. Conselheiro Emídio Navarro, querendo implantar no país a instrução agrícola profissional e a segunda, veiculada pelo livro Le retour aux champs et l’enseignement agricole dans les collèges catholiques, do Rev.do Burnichon, onde se aconselha o retorno aos campos para debelar os perigos sociais.
Para a criação deste instituto agrícola, o colégio bracarense recorreu a todos os meios indispensáveis, desde influências de altas individualidades até à disponibilização de recursos ao seu alcance (terrenos apropriados a uma estação experimental de agricultura).
Formalmente, a autorização para a criação de uma Escola Agrícola aconteceria em 5 de Novembro de 1901. Em 1903, já funcionava um Curso Preparatório de Agricultura, leccionado por um regente agrícola, graças aos esforços do Visconde da Torre, com uma turma de 18 alunos.
Para dar sequência a um ofício datado de 6 de Setembro de 1907, elabora-se um novo Projecto de Regulamento para a Escola Profissional de Agricultura do Colégio dos Órfãos de S. Caetano.
Nos alvores da República, em 1911, o governo viria a homologar o ensino agrícola desta instituição, destinado a alunos internos e externos. Para tanto foram importantes os esforços do Presidente da Câmara Dr. Domingos Pereira. Pelo ofício do Ministério da Instrução Pública, datado de 2 de Março de 1915, tomamos conhecimento que foi integrada no Ministério da Instrução a Escola Profissional, Agrícola e Industrial D. Frei Caetano Brandão. Mas, logo a seguir, a direcção da escola informava o Ministério da Instrução Pública que a Escola Profissional Agrícola e Industrial D. Frei Caetano Brandão ainda não tinha funcionado, uma vez que o Ministério não tinha enviado as verbas necessárias e os recursos indispensáveis.
Esperemos que o efeito chiclete não se alastre, que as reformas educativas completem o seu ciclo, inclusivamente sejam avaliadas.
Correio do Minho, 21-06-2001

PEDAGOGIA DOS PROBLEMAS

Aprendi com John Dewey que «toda a lição deve ser uma resposta» e um encontro.
Uma resposta às inquietações, dúvidas, interrogações, perplexidades, necessidades e vazios dos alunos.
Um encontro para a construção de identidades, para a afirmação das diferenças. Um encontro com a singularidade dos nossos alunos, um ponto de encontro com a pedagogia dos problemas.
Obviamente que não vou ao ponto de vos roubar o direito ao tempo com lições de qualquer espécie. Mas a este propósito considero que é importante fazer do tempo estreita conta e não gastar sem conta tanto tempo, como refere Frei Castelo Branco num dos seus belos sonetos:
Ó vós, que tendes tempo e tendes conta,
Não o gasteis sem conta em passatempo;
Cuidai, enquanto é tempo, em terdes conta!
Os ritmos e as circunstâncias diferem. O tempo de cada aluno já não coincide com os sonhos dos adultos e o tempo de cada professor já não se compadece com o hábito de vivermos como donos exclusivos do saber.
Precisamos de antídotos para rotinas instaladas. É preciso reflectir ouvindo-nos uns aos outros. Tenho sempre presente o provérbio chinês: «o que eu ouço, esqueço; o que eu vejo, recordo; o que eu faço, aprendo». É preciso reafirmar a necessidade do aperfeiçoamento de práticas pedagógicas de modo a que todos os alunos aprendam mais, melhor, e mais adequadamente.
Mais que lições sobre precaridade, flexibilidade, currículos, polivalência, penso, sobretudo, numa pedagogia da esperança, que acredita que o futuro é possível, que as nuvens escuras desaparecerão no horizonte, que a relação pedagógica pode ser um lugar de encantamento e a base de toda a aprendizagem.
Penso nas aulas sobre substantivos, adjectivos e verbos. Como se abordássemos os conteúdos nos moldes de uma linha de montagem. A aprendizagem é sempre perfeita sendo natural e informal. A aprendizagem deve acontecer ao ritmo vital da criança. Apenas o vital é aprendido.
Penso nas vantagens dos trabalhos de casa e na preguiça. Roland Barthes tem um ensaio delicioso sobre a preguiça. Para ele há dois tipos de preguiça. O primeiro, de quem está deitado na rede de barriga cheia. O segundo, é a preguiça infeliz, de quem se arrasta sobre os trabalhos de casa. A vida o está chamando noutra direcção mais alegre. Mas ele não tem alternativas. Por isso se arrasta em sofrimento.
Penso no modo como se processa o conhecimento, como ele deve crescer a partir de experiências vividas. O conhecimento é uma árvore que cresce da vida. Boas intenções e muitos esforços esbarram com o cumprimento dos programas, muitas vezes abstractos, fixos e cegos. Ignoram a experiência que os alunos estão vivendo. É inútil produzir vida a partir de uma mesa de anatomia.
Penso em como é bom ser professor, em como é bom sentir o calor humano, em como é bom ensinar a descobrir o mistério das coisas e da vida.
É neste pressuposto que os formadores planificam e desenvolvem a formação, propondo, negociando, ajudando, avaliando e certificando valores, atitudes, comportamentos e competências.
No fundo o que um professor mais deseja é que os seus alunos (aquelas flores) cresçam confiantes nos seus êxitos. E com o decorrer do tempo possamos concluir como Saint-Exupéry, «o tempo que perdeste com aquela flor é que tornou a flor mais importante».
Revista Andarilho n.º 23, 2001

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Tibães e a Visita do Núncio Apostólico

O venerando D. João Beda Cardinale, O.S.B., núncio apostólico, visitou a paróquia de Mire de Tibães em 19 de Julho de 1932. Na ocasião era acompanhado pelo Sr. Bispo de Viseu e por alguns capitulares da mitra primacial bracarense.


Foi recebido em festa, com vivas e flores, pelo povo da freguesia, pois , por ele, nutria uma especial simpatia por várias razões: quando D. António Coelho deu entrada na paróquia, o Sr. Núncio associou-se com um telegrama de júbilo; antes de se deslocar a Roma perguntava sempre a D. António como ia o povo de Tibães e quatro dias antes de morrer, em Dezembro de 1934, enviou, através do seu secretário, uma bênção aos monges e povo de Tibães.


O povo da freguesia mandou celebrar solenes exéquias pelo Sr. Núncio Apostólico, as quais foram anunciadas em jornais de Lisboa, Porto e Braga.


quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Tibães – Padre Dr. Ludgero Jaspers, O.S.B.

Nasceu na Alemanha, na Westfália em 30 de Setembro de 1892 e faleceu no Mosteiro de Tibães, a última etapa do seu peregrinar, em 2 de Outubro de 1937.
- Em 1911 foi para o Brasil, onde recebeu o noviciado, na Ordem de S. Bento.
- Em 27 de Maio de 1917 foi ordenado sacerdote.
- Traduziu o Manual de Filosofia e a História da Filosofia de P. Lahr.
- Recebeu o diploma de Doutor em Filosofia pela Universidade Alemã de Munster.
- Publicou a tradução portuguesa da Summa Contra Gentiles de S. Tomás de Aquino.
- Durante o ano escolar de 1936-37 foi professor no Colégio Almeida Garrett, do Porto, mas, sempre que o serviço o permitia, refugiava-se em Tibães.
O Padre Ludgero Jaspers afeiçoou-se de tal modo a Tibães que muitas vezes desabafava que nunca mais gostaria de sair desta terra, tanto em vida como na morte. A sua morte foi sentida nesta freguesia, pois o seu carácter jovial e simpatia tinham ganho o coração dos paroquianos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Tibães - algumas curiosidades

« Com 111 anos de idade faleceu no dia 3 do corrente, na sua casa denominada de Barca d’Agua, na freguesia de Tibães, a lavradeira mais rica do concelho de Braga, O Commercio do Minho, 18/02/1873».


« No dia 30 de Agosto de 1874, festejou-se a festividade em honra de S. Gens, situado no cume da montanha sobranceira ao Convento de Tibães, com brilhante iluminação, fogo de ar, a Banda da Música da Graça, e sermão pelo Padre Joaquim José Gomes de Oliveira da freguesia da Graça, O Commercio do Minho, 03/09/1874».


«Celebrou-se em Tibães (Mire ou Parada?) a espensas da Associação das Filhas do SS. Coração de Maria, a festividade em honra da Virgem. No dia 3 houve confissões,, no dia 4, 6.ª feira, primeira comunhão para as meninas daquela associação e para os meninos da freguesia. No púlpito esteve o Reverendo Padre José Coura da Costa da freguesia de Cervães. De tarde, houve exposição, sermão e procissão com os meninos incorporados em duas alas dirigidos pelo reverendo padre Joaquim Fernandes Lopes. Fechava a procissão a Banda de Música da Graça. No domingo 6 houve lugar a um convívio, O Commercio do Minho, 10/06/1875».


«Pelo recenseamento de 1878-1880, Mire de Tibães tinha 161 eleitores (Diário do Minho, 20/3/1879)».


«Pelas 9 horas da noite, declarou-se na Companhia Fabril do Cávado, um grande incêndio. O fogo teve início num depósito de lenhas e originado por faúlhas que saltaram caldeiras, não atingiu proporções assustadoras devido à prontidão dos Bombeiros (Correio do Minho, 23-12-1926)».
«No dia 26 de Março de 1933 processou-se a trasladação das ossadas de Frei MIguel da Ascensão, Frei António da Piedade e Frei Leão de S. Tomás, de Coimbra para a Igreja Paroquial de Mire de Tibães».


terça-feira, 23 de outubro de 2007

Os Sinos de Tibães

Quem não conhece a expressão «vais ouvir os sinos de Tibães?», ou seja, o peso do castigo estará próximo como sucedia àqueles que eram encarcerados no Tronco de Tibães, ao som das compassadas e vigorosas badaladas.
Os condenados em tribunal do couto, como os monges que não cumpriam a regra, eram encarcerados na Sala do Tronco (Casa do Tronco ou Prisão Conventual), onde os presos eram agrilhoados aos troncos pelos pés. O início e o fim do cumprimento da pena, era assinalado com o toque dos sinos, ou seja, uma forma original de dar conhecimento à população do cumprimento da justiça.
Os três sinos restantes, do séc XVII e XVIII, são verdadeiras relíquias do passado: sino de S. Bento, Sino de Santa Maria e Sino de Santa Bárbara. O quarto é a sineta.
- O sino grande, consagrado a S. Bento, tem gravada a imagem do santo e uma grande cruz. Foi construído por Manuel Ferreira Gomes, em 1673. Tem a seguinte inscrição: «retirai-vos inimigos, porque Jesus, o Leão da Tribo de Judá, triunfou da morte, Aleluia».
- O sino conhecido por «panela» tem gravado a imagem de Santa Maria, construído pelo mesmo sineiro em 1679. Não tem nenhuma inscrição.
- O sino chamado da «Missa» tem gravado a imagem de S.ta Bárbara e foi construído pelo sineiro José Rodrigues em 1780. Tem gravado a seguinte inscrição: «Louvai o Senhor com vozes bem afinadas. Jesus Cristo está connosco. Sede fortes».
Desapareceram dois sinos: um encontra-se em Santa Ana de Vimieiro e o outro estará algures e foi substituído por um pequena sineira, em 1902, fundida por João Ferreira Lima.




segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Tibães - O Visconde de Ruães

Foi em 25 de Setembro de 1872 que o Rei D. Luís I concedeu o título de Visconde de Ruães a Bento Luís Ferreira do Carmo.
Nasceu no início de oitocentos e viria a falecer em 15 de Março de 1879. Numa propriedade banhada pelo Cávado, instalou a fábrica de papel, tendo mandado vir do Reino Unido técnicos para a instalação das máquinas, bem como para a demonstração de funcionamento.
Mais tarde foi nomeado para a administração daquela unidade fabril, o seu sobrinho Eduardo Luís Ferreira Carmo.Em 1878, a fábrica, devido à crise instalada, foi à praça, sendo arrematada por 50 contos de réis.
Casou em 16 de Fevereiro de 1876 com D. Ana Carolina Jácome de Sousa Pereira de Vasconcelos, fidalga da Casa do Avelar. Filha de Fernando Jácome de Sousa Pereira de Vasconcelos e D. Maria Isabel de Abreu e Lima Correia Pimenta Feijó. D. Ana Carolina nasceu em 1926 e faleceu em 1905, não deixando descendência

sábado, 20 de outubro de 2007

Tibães - Confraria da S.ra do Rosário

A devoção à Senhora do Rosário teve um momento alto no Mosteiro de Tibães em 1672, ao tempo do Dom Abade Geral o Rev.mo Padre Mestre Doutor Frei Jerónimo de S. Tiago.
Mais tarde, em 7 de Setembro de 1720, o Padre Prior de S. Domingos, de Guimarães, Frei leão, no dia da Natividade de Nossa Senhora criou a Confraria da Senhora do Rosário. Erecta na Capela da Senhora do Rosário, do Mosteiro de Tibães, para bem dos fiéis do couto. Era, então, Frei José de Santa Maria, Dom Abade de Tibães. Foi aprovada por Frei António Cloche, Mestre Geral da Ordem de S. Domingos, por Letras dadas em Roma em 12 de Outubro de 1728.
Era no altar da Senhora do Rosário que se cantava a Missa no primeiro domingo de cada mês e se rezavam as missas dos sufrágios.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O PATRONATO DE TIBÃES

O Patronato de S. Bento, inaugurado com grande pompa, em Setembro de 1932, tinha como sede a histórica sala capitular do Mosteiro Beneditino e como modelo e protector S. Bento.
Teve como primeiro Director o Padre D. António Coelho.
O Regulamento foi publicado no Boletim Paroquial, n.º 2 de Fevereiro de 1933.
Tinha como finalidades: criar em redor do pároco cooperadores leais; a formação intelectual e moral dos seus sócios; e a promoção e prosperidade da freguesia, em especial, dos mais desfavorecidos.
Muitas foram as iniciativas do patronato dos adultos:
- um magusto, em 26 de Novembro de 1933, na Capelinha de S. Bento, no qual participaram os sócios e trabalhadores da Livraria Pax, bem como o Tenente Alípio Vicente;
- a festa do Beato Nuno;
- excursão à Capela de S. Gens;
- teatro «o fotógrafo em apuros» e «o rapaz endiabrado;
- récitas de poesia e do orfeão.
As reuniões do Patronato tinham lugar aos Domingos de tarde, logo, após, a reza do terço, com o seguinte programa-horário:
- conferência durante um quarto de hora;
- estudo de solfejo também com a duração de 15 minutos;
- recreio com 15 minutos;
- ensaios de orfeão durante meia hora;
- ensaio de teatro com meia hora de duração;
- palestra em comum para troca de impressões.
A primeira mesa do patronato foi assim constituída:
Presidente – José Augusto Vieira Marques; Vice-Presidente – Manuel Joaquim Ferreira Dias Coelho; Secretário – António Dias da Costa; Vice-Secretário – Francisco Vieira da Silva; Tesoureiro – Manuel Vieira da Silva; Procurador – José Dias Macedo; Vogais – Manuel Vieira de Araújo; João Peixoto de Oliveira; António Martins; José da Conceição Peixoto; Joaquim Agostinho; José Pessoa.











quinta-feira, 18 de outubro de 2007

SEIS RAZÕES PARA COMEMORAR

Assinalamos no dia 8 de Novembro de 2007 o Vigésimo Quinto Aniversário da Escola Básica dos 2.º e 3.º ciclos Frei Caetano Brandão, instituição de prestígio na Cidade da Braga e que marcou, indiscutivelmente, o rumo da educação de tantos jovens que passaram pelos bancos desta escola. Neste data importante, e, em representação da Comissão Executiva destas celebrações, permitam-me que retire seis ideias-forte destas Bodas de Prata.
1- Comemorar é também educar, simultaneamente o espírito e a missão deste projecto. De forma a comemorar estes 25 anos, esta escola elaborou um programa de eventos, com diversas iniciativas que têm como objectivos: motivar, dinamizar, envolver e mobilizar a comunidade educativa para recordar festivamente o caminho percorrido mas, sobretudo, para enfrentar empenhadamente os novos desafios. Será o encerrar de um ciclo e o consequente início de outro sem sobressaltos, com marcas que ficarão registadas no presente e consultáveis no futuro. As sementes foram plantadas, por isso pretendemos que este próximo quarto de século seja marcado pelo desenvolvimento das ideias e dos projectos tendentes a fortalecer uma relação dinâmica entre todos os elementos da comunidade educativa, profícua e geradora de mais-valias, com reflexos visíveis na educação de cidadãos livres e participativos.

2- Comemorar é também valorizar o passado, o esforço desenvolvido por todos, alguns de forma discreta mas eficaz. O crescimento saudável e pleno das nossas crianças e jovens continua e continuará a ser o foco de todas as acções já desenvolvidas e a desenvolver, com base na convicção de que as crianças e os jovens são os elementos centrais das escolas. As tarefas inerentes à educação/ensino não terminam nunca e são, cada vez mais, complexas. Nós, portugueses, celebramos pouco. Somos ensinados para não celebrar nada. A existência de uma cultura de celebração requer abertura à distinção e à solenidade. No ensino ou fora, o português é indiferente aos símbolos nacionais, memórias, rituais, imagens, valores, monumentos. Não comemoramos. Em quantas escolas se celebra com dignidade o início do ano lectivo, a atribuição de diplomas, os feitos dos melhores estudantes? Consentimos, até, que se generalizasse uma atitude de suspeição por tudo o que possa ser visto como conservador e passadista. Mas os símbolos políticos nada têm de conservador. Uma política de símbolos é vital para as sociedades. A sua ausência só traz vazio e vulgaridade.
3- Comemorar é também pautar o processo pedagógico por valores. Ao mergulhar na história desta escola, dei-me conta de pertencer a uma equipa altamente qualificada, motivada e empenhada. Além disso, o ambiente que se respira é de boa disposição e franca amizade. Uma grande família preocupada com a educação dos seus filhos /alunos. Uma família que se preocupa com as dimensões éticas, morais e cívicas que a educação exige. Como educar alguém sem ser ajudado a conhecer-se, a respeitar-se, a conhecer o outro e a respeitá-lo? Como se pode educar para a alteridade sem pautarmos o processo pedagógico por valores? É importante que nos demos conta de que os nossos alunos precisam de uma orientação sobre os valores pelos quais deveriam reger a sua vida. Ainda que se mostrem renitentes em admiti-lo, os adolescentes necessitam e reclamam uma orientação clara. Na escola confrontamo-nos com os outros, os que nos ensinam, aqueles a quem reconhecemos autoridade, os que têm opiniões ou posições opostas ou semelhantes. Reconhecemos, como no acto socrático, a nossa ignorância, ou a presunção do que sabemos.
4- Comemorar é também falar e agir moralmente. Vivemos uma época em que as coisas mais importantes não se aprendem verdadeiramente nos livros, nem nas aulas, nem em conferências, nem em sermões. Passam de pessoa para pessoa através de gestos, de comportamentos concretos. Através de exemplos de vida. A única forma de um professor ensinar a um aluno a ser amigo e solidário consiste em ele mesmo ser amigo e solidário, custe o que custar, em todas as circunstâncias, desprezando todas essas maneiras fáceis - e falsas - de subir na vida ou de resolver problemas delicados.
5- Comemorar é também educar o educador. Milhares de jovens fizeram parte do seu percurso escolar neste estabelecimento de ensino. Alguns fizeram essa viagem a cantar, outros com muito sacrifício, uns que viam sorrir o sol todos os dias, outros que se faziam por esquecer da chuva, do frio e das bolhas nos pés. Agora, muitos destes jovens são profissionais dedicados e competentes, outros, talvez, se deixem arrastar dolorosamente pelo destino, outros, ainda, ocupam os mais diversos lugares na sociedade não só como profissionais competentes, mas também como cidadãos empenhados e quiçá, outros, trabalham ignorando o ritmo e a melodia do tempo. Muitos já esqueceram a lição daquele dia e daquela disciplina, nem se lembrem de onde nem de quando nem de quem a aprenderam, mas interiorizaram o bem com naturalidade porque vivem aquilo que aprenderam, nem acreditam que estão a tornar o mundo melhor e mais belo. Afinal de contas, o estudante é como uma planta tenra que requer orientação, ajuda; mas se o ajudante é ele próprio incapaz, estreito, intolerante e tudo o mais, naturalmente o seu produto será o que ele é. Assim, parece-me que a coisa mais importante é tanto a técnica do ensinar, como a inteligência do próprio educador.
6- Comemorar é também sermos capazes de mudar. Mas sucede que a responsabilidade não nasce senão depois de se ter cultivado cuidadosamente, demoradamente, a semente da responsabilidade. Passámos anos a fomentar no menino um estilo de vida irresponsável, e agora, de repente, exigimos-lhe que seja responsável? Passámos anos a apaparicá-lo, e agora queremos que seja maduro? Para ele ser maduro, teria sido necessário que tivesse vivido, que tivesse passado experiências diversas, que tivesse enfrentado obstáculos, que tivesse feito coisas sozinho, que tivesse errado e emendado depois os erros, que se tivesse aperfeiçoado à custa de esforço pessoal. E nós temos feito tudo para lhe evitar esses obstáculos, essas experiências e esse esforço. É claro que, quando chega a altura em que precisa mesmo de estudar, porque as matérias se tornaram mais difíceis, não é capaz de o fazer. Pois é natural que - não tendo sido habituado ao esforço de fazer a cama, de ir a pé para a escola, de pôr a mesa... - não seja capaz do esforço de estudar, que é maior do que os outros. É escusado levar o menino ao psicólogo. É escusado pensarmos que o problema está em que não sabe estudar, em que desconhece as técnicas de estudo. Do meu ponto de vista, a resolução desta “epidemia melancólica”, desta « ladainha de lamúrias» não se limita apenas a soluções farmacológicas. A alegria tem que ser procurada de outras formas, mesmo sabendo que é grande a tentação de não fazer mudanças. É mais fácil continuar com o queixume de sempre e atribuir ao infortúnio a culpa da nossa infelicidade.
Para concluir, permitam a ousadia deste convite. Esqueçamo-nos do tempo para que possamos tocar e ser tocados, para termos a força necessária para nos deixarmos comover, impressionar, abalar, agitar, enternecer, sensibilizar e desta forma colocar em movimento, as palavras e os pensamentos de nosso patrono D. Frei Caetano Brandão, como guia de actuação para os próximos 25 anos: «A educação é certamente uma das primeiras causas que contribuem para o bem da sociedade, e esta será mais ou menos feliz, na medida dos cuidados que se tomam em cultivar os tenros corações dos estudantes (… ) haverá nos mesmos professores grande cuidado de tratar os estudantes, nem com violência nem com severidade, de modo que deles mais consigam o amor do que o temor (…) terão os professores cuidado de medirem as lições que passarem aos alunos, de modo a que sejam proporcionadas às suas forças e ao tempo destinado ao estudo, advertindo que o ponto não está em carregá-los com extensas lições, mas com lições que sejam verdadeiramente interiorizadas».
José Carlos Gonçalves Peixoto
Coordenador do departamento de Ciências Sociais e Humanas

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Tibães e as inovações

RUÃES – O AMERICANO, O TELÉGRAFO, O TELEFONE
Em 31 de Outubro de 1887, deslocaram-se alguns empregados da estação telégrafo-postal, desta cidade, a Ruães, a fim de estabelecerem uma linha telegráfica para pôr em comunicação a fábrica de papel ali estabelecida com a cidade.
Em Dezembro de 1887, concluíam-se os estudos definitivos para o assentamento da linha americana que tem de ligar a cidade de Braga com a importante fábrica de papel situada na freguesia de Ruães .
Foi concedida licença duma linha telefónica para a importantíssima Fábrica de Papel de Ruães, em 3 de Janeiro de 1893.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

HINO DA ESCOLA PROFISSIONAL DE BRAGA

A pedido da Direcção da Escola somos autores da música e coautores da letra do Hino da Escola Profissional de Braga. O Jornal Passo a Passo da EPB, de 12 de Março de 2007, Ano XIV, n.º 35, inserto no Correio do Minho divulga essa composição.


domingo, 14 de outubro de 2007

Tibães e Frei Bernardo de Vasconcelos, O.S.B.






Foi por volta de 1926 que Frei Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos (1902-1932) conheceu D. António Coelho, quando juntou a comunidade estudantil na Falperra e, mais tarde, quando consegue a oficialização da ordem como corporação missionária e restaura a vida monástica em Singeverga.




Frei Bernardo foi, com certeza, um filho espiritual, muito afeiçoado, de D. António Coelho.




Quando, D. António Coelho, se transferiu para Tibães, como pároco, o dedicado monge Frei Bernardo, ficou muito abalado com aquela mudança de rumo, no entanto, já tinha escrito, em 1929, que gostaria de ter forças para participar na restauração da antiga Abadia-Mãe da Congregação de S. Bento de Portugal, em Tibães e a vida beneditina.




Em 3 de Maio de 1932, dois dias depois da tomada de posse de D. António Coelho, em Tibães, deixa transpirar que a sua ferida é grande por não poder participar na restauração da abadia de Tibães. Viria a falecer a 4 de Julho de 1932.


Conferências e concerto assinalam bicentenário de D. Frei Caetano Brandão

(Artigo publicado no Diário do Minho, de 14/12/2005)
No próximo dia 16 de Dezembro, terão lugar no Salão Nobre da Universidade do Minho, no Largo do Paço, e no dia 17 de manhã, no Auditório da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica, na Guadalupe, um vasto conjunto de conferências que abarcam diversas áreas do saber e da cultura onde o prelado bracarense se movimentou.
Braga conta, entre os seus cidadãos mais ilustres, com Dom Frei Caetano Brandão, para muitos “um santo”, para outros, seguramente, um cidadão benemérito. Há homens que marcam o destino dos povos. São raros e possuem a rara capacidade de intuir os momentos cruciais que marcam o futuro e encarnam as decisões que irão delinear o destino de outros homens.
As conferências têm esta finalidade, de contextualizar e dar à luz novos factos que contribuam para o conhecimento desses homens que marcaram um tempo e a história. A obra deste proeminente Arcebispo reparte-se por grandes áreas: do seu zelo episcopal à benemerência; da criação de escolas de primeiras letras à fundação de colégios para meninos órfãos e meninas órfãs; da instrução geral à formação profissional; da intervenção social à participação política; da pedagogia à filosofia; da interferência no desenvolvimento das artes e ofícios ao exemplo e pastoral evangélica. Exemplos deste afã são as obras que, ainda, hoje perduram: o Colégio de S. Caetano e o Conservatório do Menino Deus (Lar D. Pedro V).
Para o insigne Arcebispo, só a virtude e a ciência se devem impor à consideração dos povos: «invencivelmente me sinto arrebatado a promover a boa educação dos meninos e meninas pobres». Caetano Brandão viveu em pleno século das luzes, do afã científico e filosófico, como referência suprema da vida humana. Mas as contradições, no século XVIII, subsistem, pois a cultura e o saber continuam a ser património dos privilegiados da vida e da fortuna.
Os mais pobres não têm lugar no plano da sabedoria. Frei Caetano Brandão era, porventura, mais revolucionário, pois concebia que era necessário conciliar o trabalho e o ensino. Um bom trabalhador necessita de ter uma boa formação geral, profissional e moral. A própria evolução da sociedade, o progresso da pátria deveria assentar numa formação geral de todos os cidadãos, começando pelos mais necessitados porque os privilegiados da vida e da fortuna já possuíam os meios, os recursos, as escolas, os colégios de bem e podiam custear os mestres particulares, aios ou preceptores.
O iluminado educador da ordem franciscana é uma figura emblemática da caridade, o rosto visível dos pobres. Inicia-se o programa do simpósio, pelas 9h30, da próxima sexta-feira, dia 16, com a abertura solene pelo magnífico Reitor da Universidade do Minho e uma saudação pelo prof. Doutor António Sousa Fernandes (Director da Revista Bracara Augusta).
Seguidamente decorrerão as seguintes conferências: «a extinção da relação bracarense » pelo prof. Doutor José Viriato Capela (Vice-Reitor da Universidade do Minho) e a «a actualidade de D. Frei Caetano Brandão» pelo prof. Doutor Luís A. de Oliveira Ramos (Director da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica). Após o intervalo haverá lugar a uma mesa redonda «D. Frei Caetano Brandão e o seu tempo», coordenada pelo prof. Doutor José Paulo Leite de Abreu e contará com um painel constituído pela Prof.ª Doutora Maria do Rosário Themudo Barata de Azevedo Cruz da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Prof.ª Doutora Zília Osório de Castro da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Na tarde do dia dezasseis, com início às 15h00, continua o programa científico, com as conferências: «as pastorais de D. Frei Caetano Brandão» pelo prof. Doutor Franquelim Neiva Soares (Universidade do Minho); «D. Frei Caetano Brandão em Belém do Pará», Padre Ronaldo Menezes (Chanceler da Arquidiocese de Belém do Pará); – «a música no tempo de D. Frei Caetano Brandão» pela prof. Doutora Elisa Lessa (IEC-Universidade do Minho); – «os sombreireiros de D. Frei Caetano Brandão» pelo prof. Doutor Aurélio de Oliveira (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Pelas 21h30, haverá lugar a um concerto de música sacra com música do século XVIII. Do dia 17 de Dezembro, próximo sábado, as conferências, com início às 9h30 horas, terão lugar no Auditório da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica, no Guadalupe: «a intervenção sócio-educativa de D. Frei Caetano Brandão, no Pará e em Braga, no contexto do século das luzes» pelo mestre José Carlos Gonçalves Peixoto (Presidente do Conselho de Administração do Colégio de S. Caetano); «a escola médico cirúrgica de D. Frei Caetano Brandão» pela Dr.ª Maria de Fátima Castro (investigadora do fundo documental da Santa Casa da Misericórdia de Braga); «Leonardo Caetano de Araújo, benfeitor do Colégio de S. Caetano» pelo Padre António de Sousa Araújo.
Termina a parte cultural com a apresentação do livro D. Frei Caetano Brandão (1740-1805), o testemunho da fé. A família, de Francisco M. Ponces de Serpa Brandão, a cargo do Mestre José Carlos Gonçalves Peixoto e do autor da publicação, quinto sobrinho neto do prelado bracarense.
Comemoramos 200 anos do seu falecimento, do ilustre Primaz da Igreja Bracarense, que ao exalar o último alento, não deixou bens materiais em seu testamento, mas sementes de esperança. Esperemos que destas conferências saiam sementes de esperança.
(José Carlos G. Peixoto, Presidente do Conselho de Administração do Colégio de S. Caetano)

sábado, 13 de outubro de 2007

«Tibi Omnes» Tibães

O arcebispo tridentino, D. Frei Bartolomeu dos Mártires numa das suas deslocações a esta terra e junto da Capelinha do Patriarca S. Bento, situada no local de maior altitude da cerca, desabafava: «não lhe chameis Padres a esta casa de Tibães, chamai-lhe Tibi Omnes (a ti todos) porque é bom que todos venham a ela para louvarem a Deus gozando de vista tão aprazível.


Daquela vista aprazível, os olhos alcançavam:


- 10 Mosteiros (extintos),

- 7 Concelhos,

- 6 Conventos (Tibães, Rendufe, Sabariz, Paredes Santas, Codeceda e Bouro),

- 6 Casas nobres e solares (dos Azevedos, Penegates, Portela das Cabras, dos Abreus no Pico dos Regalados, Machadas e Motas no Gerês).

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

POPULAÇÃO DE MIRE DE TIBÃES

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO


Data - Total de homens e mulheres


1878 – 0818


1890 – 0784


1900 – 0869


1911 – 0992


1920 – 0963


1930 – 1052


1940 – 1354


1950 – 1664


1960 – 1726


1970 – 1870


1981 – 2466


1991 – 2404


2001 - 2425

«FREI CAETANO BRANDÃO - MODERNIDADE DA MENSAGEM CAETANIANA»

Contra a corrente preponderante, vários pedagogos reconheceram a urgência em determinar um novo sentido para a legitimidade da educação feminina e remar contra a maré. Nesta corrente citamos: os humanistas Erasmo e L. Vives, que reagiram contra antigos preconceitos Judaico-Cristãos sobre a inferioridade e malícia das mulheres; Coménio, na Didáctica Magna, (1657); Fénelon, no Traité de l’Éducation des Filles, (1687); Mary Wollstonecraft, [1] que ousou sistematizar e dar forma concreta a protestos que se encontravam no espírito das suas contemporâneas, no livro Reflexões Sobre a Educação das Nossas Filhas e Reivindicação dos Direitos da Mulher; e Rollin, que é particularmente notável por referir as vantagens de se instruírem as mulheres, na obra De la Manière d’Enseigner et d’Etudier les Belles Lettres par Rapport à l’Esprit et au Coeur, (1726-1728).
Entre portas, duas datas e duas publicações constituem factos significativos da história das mulheres em Portugal, até à época em que movemos o nosso estudo. Primeiro, a publicação do Espelho de Cristina, em 1518, tradução e adaptação do Livre des Trois Vertues, de Christine de Pisan. É um dos primeiros livros impressos em Portugal, por ordem de D. Leonor. Segundo, a publicação Dos privilégios e prerrogativas que o género feminino tem por direito comum e ordenações do reino mais do que o género masculino, em 1557, de Rui Gonçalves. Podemos afirmar que esta obra é considerada o primeiro livro «feminista» português, no sentido de nele se assumir a defesa dos direitos das mulheres.
Às concepções do franciscano Caetano Brandão não são estranhas as influências da época, nomeadamente o papel das mulheres na Revolução Francesa. Desta influência não resistimos a mencionar o quadro de Delacroix, existente no Louvre, onde o triunfo da República é personificado por uma mulher e uma criança; os apelos das mulheres, que podemos encontrar nos Cahiers de Doléances, que querem fazer-se ouvir, pretendem a sua admissão nos Estados Gerais e exigem o direito ao trabalho e à educação; o papel das mulheres no Verão de 89, ou mais propriamente o papel das mulheres voluntaristas na Tomada da Bastilha e que, posteriormente, tanto Baudelaire como Lamartine cantarão; e, em síntese, por que não citar algumas: Sophie de Condorcet, a mulher de espírito; Madame de Stael, a amorosa da revolução; Elta Palm, a mulher pragmática; Olympe de Gouges, a mulher política e Manon Roland, a mulher racional.
Não olvidemos que a revolução de 89 proclamava a igualdade dos sexos perante a lei.
Este prelado estava a par dos principais desenvolvimentos e contornos da revolução, pois, para além de possuir no paço a Encyclopédie, assinava o Correio da Europa e usufruía do contacto com os clérigos expatriados de França. Por exemplo, o Padre, Poeta e Arquitecto Pierre Noury, fundou no coração da Bretanha, diocese de Vannes, um colégio feminino de beneficência «Filles de Jésus de Kermaria», e já entre nós foi professor no Seminário de Braga, onde teve a oportunidade de conviver e influenciar o arcebispo, entre 1794 e 1801 [2].
Entre nós, lutaram pela dignificação da condição feminina três grandes homens da cultura: Luís A. Verney, Ribeiro Sanches e Cavaleiro de Oliveira (ou D. Francisco Xavier de Oliveira, 1702-1783, o nosso protestante que as chamas inquisitoriais só não reduziram a cinzas porque tivera a dita de verter para o papel as suas lucubrações longe da pátria). Este dedicou algumas passagens do Amusement Périodique (1751) à educação e instrução das mulheres. Ribeiro Sanches, em 1759, publica As Cartas Sobre a Educação da Mocidade, onde faz uma alusão à necessidade de instruir as «Senhoras» portuguesas. Cabe lembrar que só as «Senhoras» eram contempladas: as mulheres do povo permaneceriam ainda na escuridão e submissão.
No plano da educação de Ribeiro Sanches, os trabalhadores, ou (como ele escreve nas Cartas sobre a Educação da Mocidade) o Pastor, o Jornaleiro, o Tambor, o Carteiro, o Criado, o Escravo e o Pescador, bem como as suas esposas e filhos, estavam condenados ao obscurantismo [3].
Também Sebastião José de Carvalho e Melo, criador do Ensino Primário Oficial, por alvará de 6 de Novembro de 1772, não pretendia o ensino para todos. Inclusivamente, no País da Revolução Burguesa de 89, os seus ideólogos, como La Chalotais, criticavam aqueles que, de aldeia em aldeia, promoviam a instrução pública e introduziam novos métodos pedagógicos, como os Irmãos das Escolas Cristãs. O próprio Voltaire, além de louvar La Chalotais, projectou a sua ironia sobre os Irmãos de La Salle porque promoviam o povo e o ajudavam a sair da sua marginalização social e cultural. Contrariamente, nos alvores das Luzes, Luís António Verney defende o ensino universal e, no apêndice à 16.ª carta, do Verdadeiro Método de Estudar (1746), elaborou um exame crítico da situação da mulher: «Certamente que a educação das mulheres neste reino é péssima; e os homens quase as consideram como animais de outra espécie» [4].
D. Frei Caetano Brandão conhece perfeitamente a realidade escolar em Portugal, nomeadamente a inexistência de uma rede escolar, o analfabetismo e a discriminação pela educação da mulher. Não há, para o magnânimo arcebispo, qualquer fundamento em considerar a mulher intelectualmente inferior e, desse modo, encontrar uma justificação para afastá-la do sistema escolar. Nem a diferença de sexo poderá legitimar uma desigualdade de oportunidades educativas. Reconhece, isso sim, inclinações e vocações diferenciadas. Para os homens, ofícios como: lavradores, mercadores, sombreireiros, tecelões, ferreiros, armeiros, livreiros, carpinteiros; para as mulheres: fiação, costura, tecelagem, bordado, sirgaria [5].
Retoma, frequentemente, a questão da educação feminina. Para tanto, avança com duas necessidades fundamentais.
A primeira (basta consultar a Pastoral para a Erecção do Seminário destinado à Educação de Meninas) relaciona-se com a formação de boas mães, porque estas, à excepção de um pequeno número de pais, são as únicas mestras de seus filhos na primeira idade [6].
Também Verney reconhecia esta necessidade e considerava as mães de família como as «nossas mestras nos primeiros anos da nossa vida» [7].
Mas o admirável discurso do venerando arcebispo termina com uma interrogação: se por infelicidade estas mestras não tiverem uma educação virtuosa, como a poderão dar a seus filhos? [8]. Assim, para a formação de boas mães, lançou-se na construção de colégios para: «educar Meninas pobres, e órfãs, ou ainda aquellas, que seus Pais quizerem, para sahirem dalli instruidas nas verdades da Religião, e em tudo o que póde servir de ornamento a huma boa Mãi de Familia» [9].
A segunda necessidade refere-se à formação de boas esposas: «Tomára que visse este rebanho de cordeirinhas arrancadas da boca do lobo (...). Ahi estão agora instruindo-se (...); depois casão com officiaes; contribue-se-lhes com alguma cousa para o seu estabelecimento, e fica uma familia talvez bem util á Religião, e á Sociedade» [10].
As medidas não se fizeram esperar. Tendo em conta a formação de boas esposas, para aquelas meninas e meninos que manifestavam vocação para o matrimónio, era obrigação do colégio promover encontros com «moças honradas e sisudas (preferidas sempre as meninas do Conservatorio de São Domingos) e soccorrel-os com a esmola necessaria para o seu primeiro estabelecimento» [11]. Estes subsídios, destinados ao estabelecimento do casal e actualmente designados subsídios de casamento, representam para a época uma ideia ousadamente inovadora, precursora e de grande alcance social para a época.
Para o excelso arcebispo, só a virtude e a ciência se devem impor à consideração dos povos: «invencivelmente me sinto arrebatado a promover a boa educação dos meninos e meninas pobres» [12]; mas, de entre estas, a sua preocupação fundamental era «educar as que tem de ser mãis de família» [13].
Por outro lado, a educação para Caetano Brandão tem um grande poder. O fomento da instrução é uma alavanca poderosa contra a ignorância, fonte de todos os males: «A educação é certamente uma das primeiras causas que influem no bem da sociedade» [14] e exerce ainda um grande poder de regeneração contra os inconvenientes do meio: «Corta-me o coração ver tantas meninas pobres sacrificadas à prostituição e à desgraça eterna por falta de ensino» [15].
As palavras verdadeiramente inovadoras de Cavaleiro Ferreira, Ribeiro Sanches, Luís A. Verney e Caetano Brandão representam um grande avanço em relação à obra de D. Francisco Manuel de Melo, Carta de Guia de Casados (1651). Nesta obra, a mulher passa da tutela dos pais para a tutela ainda mais cauta e suspicaz do marido; deve viver em reclusão completa, inclusivamente com a capela em casa; se possível, sem confidentes, sem criadagem da sua confiança pessoal; vigiada estreitamente nas suas relações e despesas; sem cultura literária e artística. Como ilustração, certo tipo de construções, dos séculos XVII e XVIII, são o melhor exemplo da religiosidade conservadora, que fazia cobrir as janelas com gelosias, adufas e finas grades de madeira, obrigando as mulheres a um recato absoluto. A Casa dos Crivos na velha Rua de S. Marcos é um exemplar chave desse tipo de habitações, de uma cidade beata, silenciosa e voltada para dentro de si mesma. Outro exemplo característico é a litografia a cores do artista Inglês G. Vivian, do Largo do Paço, datada de 1789, onde observámos estes motivos nas fachadas dos edifícios.
Mas as perspectivas abertas pelos inovadores, alguns deles estrangeirados, são, ainda, limitadas. Em nossa opinião, chama-se a atenção para a necessidade da mulher aprender, mas deverá fazê-lo muito mais pelos seus filhos, pela sua casa, pelo seu marido, que por si própria, pela sua efectiva emancipação.
[1] Escritora inglesa, nascida em 1759.
[2] Henriette Danet, Signé d'une Croix, Paris, Desclée, 1990. Augustin de Barruel enumera outros gestos de generosidade e testemunhos de caridade dos prelados da Península Ibérica que corresponderam ao apelo dos padres franceses, in História abbreviada da perseguição, assassinato e do desterro do clero francez, durante a revolução, Porto, 1797, parte III, pp.322-324.
[3] Coimbra, Imprensa da Universidade, 1922, pp. 190 e ss.
[4] Verdadeiro Método de Estudar, Ed. org. por A. Salgado Júnior, vol. 5, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1952, pp. 148-149.
[5] Memórias,t.º II, pp. 120-129.
[6] Datada de 12/6/1788, Jornal de Coimbra, n.º 35, parte II, 1815, pp. 235-240.
[7] Carta 16, Apêndice, p. 125.
[8] Memórias, t.º 1, p. 281.
[9] Memórias, t.º I, p. 278.
[10] Memórias, t.º II, p. 232.
[11] Plano, p.15.
[12] Memórias, t.º II, p. 123.
[13] Memórias, t.º II, p. 128.
[14] Plano, p. 9.
[15] Memórias, t.º I, p. 278.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Tibães e D. António Coelho

Nasceu em Braga, a 24 de Maio de 1892, e foi baptizado na Igreja de S. João do Souto a 9 de Junho do mesmo ano, com o nome de baptismo Manuel Augusto Coelho. Era filho de Francisco José da Conceição Coelho, falecido em 1897 e de Maria Júlia Fernandes Coelho, falecida em 1898.
O seu tio paterno Padre Alberto José Fernandes, pároco de Cavalões, V.N. de Famalicão, falecido em 28 de Abril de 1922, foi, após a morte do seu genitor, outro pai.
- Outubro de 1905, entrada na Escola Claustral de Singeverga.
- 26-01-1911, tomou o hábito beneditino no Mosteiro de Mont-César, Lovaina, Bélgica.
- Professou a 27-01-1912.
- 1914, foi levado prisioneiro para a Alemanha, regressando, pouco depois, à Bélgica.
-24-09-1916, recebe a ordenação sacerdotal das mãos do Cardeal Mercier.
-1922, publica a tradução portuguesa do livro de Gaspar Lefebvre, Liturgia, princípios Fundamentais.
- 1926, lança a Revista Opus Dei.
- 1926-1930, publica os 5 volumes do seu Curso de Liturgia Romana.
- 1926-1932, Prior de Singeverga.
- 1 de Maio de 1932, deixou Singeverga para tentar, em Tibães, a restauração da antiga Abadia-Mãe da Congregação de S. Bento de Portugal, seguido, logo depois, por dois monges-sacerdotes.
-20 de Dezembro de 1938, faleceu.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Tibães e a música

A BANDA DE MÚSICA DA FÁBRICA DE RUÃES

Foi inaugurada na Fábrica de Ruães uma Banda de Música, em Abril de 1900, sob a Direcção do Sr. Delfim José Teixeira, músico da Banda de Infantaria 8. O Sr. José Júlio Coelho Pereira, administrador da fábrica, na ocasião da inauguração da Banda de Música ofereceu um lauto jantar aos executantes.

Conhecemos algumas participações desta banda: Nas festas de S. João, de 1902, e na peregrinação ao Sameiro, em 31 de Agosto de 1902.

domingo, 7 de outubro de 2007

Tibães - INQUIRIÇÕES DE GÉNERE

Muitos jovens, da freguesia de Santa Maria de Mire de Tibães, decidiram ingressar nos seminários. Para obterem ordens, necessitavam de fazer um requerimento ao prelado, o qual depois seguia um determinado processo, acabando no despacho do primaz . Destes, muitos tornaram-se presbíteros:

28 de Julho de 1689 - José Antunes, filho de André Antunes e Maria André.
30 de Setembro de 1702 - Manuel Gomes Costa, filho de Domingos Gomes e Maria Costa Coelho.
30 de Julho de 1728 - Manuel Francisco, filho de Bento Francisco e Jerónima Francisca.
31 de Março de 1730 - Bento Francisco Dias, filho de João Dias e Maria Francisca.
24 de Novembro de 1732 - Custódio André Carvalho, filho de João André e Mariana Gonçalves.
11 de Fevereiro de 1745 - João Pereira da Silva, filho de Manuel Pereira e Serafina Silva.
23 de Fevereiro de 1778 - José Peixoto, filho de Luís Peixoto e Maria Soares.
25 de Setembro de 1780 - Constantino Luís Correia, filho de Francisco Luís e Francisca Josefa Correia.
14 de Maio de 1785 - António José Gomes, filho de Custódio Gomes e Custódia Gomes.
27 de Fevereiro de 1786 - António José Francisco, filho de Simão Francisco e Custódia Francisca.
9 de Setembro de 1787 - Francisco Xavier Coelho, filho de Jacinto Gomes Coelho e Jerónima Francisca.
6 de Dezembro de 1897 - João Gomes Veiga, filho de Manuel Gomes Dias e Maria Gomes da Silva.
19 de Maio de 1905 - Boaventura José Rodrigues, filho de António José Rodrigues e Rosa Maria Duarte.

sábado, 6 de outubro de 2007

«FREI CAETANO BRANDÃO - VIDA E OBRA»

Este grande vulto da velha metrópole bracarense nasceu na freguesia de Loureiro, perto de Estarreja, em 11 de Setembro de 1740 e faleceu no Paço Arquiepiscopal de Braga, nas vésperas do Natal de 1805, propriamente no dia 15 de Dezembro. Por inclinação genial e invencível para a vida eclesiástica, tomou o hábito da Ordem Terceira de S. Francisco, no Convento de S. Pedro da Ordem Terceira da Penitência, em Coimbra, apenas com 19 anos [1].
Na Lusa Atenas, onde se bacharelou em 29 de Setembro de 1768, estudou Cânones, Filosofia e Teologia [2].
A sua formação sofreu a influência da reforma pombalina dos estudos, implementada pelo franciscano Frei Manuel do Cenáculo e amigo pessoal do prelado bracarense.
Esta formação pombalina permitiu-lhe contactos com a filosofia moderna e com a teologia positiva.
Terminados os estudos universitários entrou, imediatamente, na carreira oratória, com a fácil e vigorosa eloquência que sempre conservou.
Caetano Brandão viveu em pleno século das luzes, do afã científico e filosófico, como referência suprema da vida humana. Mas as contradições, no século XVIII, subsistem, pois a cultura e o saber continuam a ser património dos privilegiados da vida e da fortuna. Os mais pobres não têm lugar no plano da sabedoria. Inclusivamente o critério da sociedade é que, tanto os pobres como os artesãos, não necessitam de aprender, basta-lhes trabalhar. O que interessa, para essa sociedade, é que sejam bons trabalhadores, para que não se corra o risco de abandonarem o seu Status.
Frei Caetano Brandão era, porventura, mais revolucionário, pois concebia que era necessário conciliar o trabalho e o ensino. Um bom trabalhador necessita de ter uma boa formação geral, profissional e moral. A própria evolução da sociedade, o progresso da pátria deveria assentar numa formação geral de todos os cidadãos, começando pelos mais necessitados porque os privilegiados da vida e da fortuna já possuíam os meios, os recursos, as escolas, os colégios de bem e podiam custear os mestres particulares, aios ou preceptores.
A sua preocupação pelo desenvolvimento económico, pelo desenvolvimento do ensino profissional e a criação de certames de carácter económico, procuram, fundamentalmente, criar condições ou pré-requisitos para fugir do ciclo da pobreza e do subdesenvolvimento das camadas populacionais. Medidas que, pela sua oportunidade, tiveram efeitos desmultiplicadores. Os concursos que promoveu são, no principal, um problema de educação, de orientação, de valorização que não podia deixar de atender ao desprimoroso atraso em que se encontrava a maioria da população.
Assim foi possível tirar das sarjetas muitas gerações de jovens e voltar a trazê-los para a luz dos salões, porque o destino não tem templos. O preclaro educador da ordem franciscana é uma figura emblemática da caridade, o rosto visível dos pobres: «Quizeramos em fim, opprimidos da caridade ir pessoalmente buscar os mais barbarosinhos dos nossos subditos mesmo dentro das suas rudes, e desabrigadas choupanas, abraçar-nos com elles estreitamente, mettellos em nosso coração» [3].
A obra deste proeminente arcebispo reparte-se por grandes áreas: do seu zelo episcopal à benemerência; da criação de escolas de primeiras letras à fundação de seminários para meninos órfãos e meninas órfãs; da instrução geral à formação profissional; da intervenção social à participação política; da pedagogia à filosofia; da interferência no desenvolvimento das artes e ofícios ao exemplo e pastoral evangélica.
Nas pastorais encontramos o fio condutor da sua teoria e militância, numa luta árdua pela criação de melhores condições de vida e que ele condensava na expressão: «a caridade como essência da perfeição». A caridade como uma das muitas estradas que o amor utiliza para fazer com que um homem se una ao seu próximo. Dar uma esmola a um pobre, por vezes, é fácil; amá-lo é fazer muito mais por ele. Neste sentido o amor é o melhor exercício da nossa fé.
Numa das suas pastorais, o «Discurso sobre o Estado Religioso» [4], aponta as fontes onde bebe o seu pensamento: S. Jerónimo, S. João Crisóstomo, S.to Agostinho, S. Frutuoso, Frei Bartolomeu dos Mártires, São Carlos Borromeu, S. Francisco de Assis, S. Bento, S. Isidoro e S. Francisco de Sales. Para ele, estes mestres e doutores da igreja são os oráculos que anunciam a verdade [5] . O prelado não deve ter alguma coisa própria [6], pois o pecúlio leva sempre conexo o vício abominável da propriedade. A ele pertence repartir a comida, o vestuário, a instrução, não igualmente, mas conforme as necessidades de cada um: «Ai dos Pastores, que se apascentão a si mesmos! Por ventura o rebanho não deve ser nutrido pelos pastores?» [7]. Ao pensar moralmente deve corresponder sempre o agir moralmente: «crer o que lê, ensinar o que crê e praticar o que ensina» [8].
Com o mesmo fim, o iluminado arcebispo, atribuía à educação um lugar primordial na formação do homem: «Façam o que fizerem, em quanto se não cuidar efectivamente na educação da plebe, assim politica como religiosa, verão sempre perpetuada a cadeia de desordens que desafiam a nossa magua; por que em fim é grande loucura esperar que venha a ser melhor a geração futura, se lhe não fornecermos outros recursos, que teve a nossa» [9].
O que mais fascina na personalidade deste arcebispo é essa sensação de desconformidade entre o ser e o dever ser, entre o que encontra e o que procura atingir. Mas para lançar a ponte entre o seu projecto e a realidade, estabelece os meios indispensáveis de regeneração e de solidariedade social, concretamente, o fomento da instrução e da educação.
A grandeza de alma de Frei Caetano Brandão manifesta-se no modo como se auto-analisa e como manifesta os seus escrúpulos acerca da maneira como exerce o seu cargo. Era um homem simples, humilde, solidário, de forte personalidade, mas de sólidas convicções no projecto que defendia, porque os seus valores e objectivos estavam na essência da evangelização religiosa.
A solidariedade concretizava-a diariamente junto dos seus compatriotas, bem como de dezenas de refugiados da revolução francesa. Como ilustração, recebeu em Janeiro de 1792, M. Pascal e sua mulher, insignes músicos de Harpa.
Frei Caetano Brandão é um homem de uma época remota, que atravessou a memória do tempo, sobretudo pela sua actuação inovadora, que pressentiu a mudança e reagiu a essa situação, em certos momentos aceitando, outras vezes invectivando contra os inconvenientes do meio. Teve sempre uma perspectiva optimista, apelava a uma sociedade mais aberta e integrada, ao aumento da tolerância e à diminuição da pobreza. Nunca se conformou com o «círculo vicioso» que gerava uma sociedade fechada, marcada pela intolerância rígida às novas correntes do pensamento, da qual resultava uma economia estagnada e um aumento da pobreza. Alheio a elitismos, a sua cultura era marcadamente antropológica. A cultura não era um conceito vago, consistia na faculdade de perceber aquilo que nos rodeia, para nos conhecermos e nos relacionarmos melhor.
Desprezando os critérios do mundo, o genuíno franciscano actuava, apenas, por motivações eclesiais, pastorais, zelo evangélico, devoção, apostolado e direcção espiritual.
Frei Caetano sempre manifestou o ardente desejo de ir para as missões do ultramar. Chegou mesmo, em 1778, a ir a Lisboa manifestar a sua pretensão, sabendo que a sua Ordem tencionava enviar missionários para Angola, mas tal manifestação de vontade seria indeferida em 1779.
No entanto, os desígnios seriam outros. A nomeação, em 2 de Agosto de 1782, causou-lhe enorme surpresa. A humildade do seu ânimo e a modéstia do carácter não lhe permitiam elevada dignidade. Apesar disso, a pedagogia missionária impedia-o de uma recusa formal. Desta forma, Frei Caetano Brandão navegou em águas aventurosas, acreditou no futuro e embarcou em naus que venceram, apesar dos ventos contrários. Belém do Pará é o porto de arrimo.
A partir de 1722, o Brasil, politicamente, passou a constituir um único vice-reinado com sede no Rio de Janeiro, mas dividido em nove capitanias gerais e nove capitanias subalternas: Grão-Pará (com S. José do Rio Negro, conhecido por Amazonas); Maranhão (com Piauí); Pernambuco (com Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba); Baía (com Sergipe e Espírito Santo); Rio de Janeiro (com Santa Catarina e Rio Grande de S. Pedro, conhecido por Rio Grande do Sul); S. Paulo; Minas Gerais; Goiás e Mato Grosso.
A divisão eclesiástica era diferente. Por volta de 1670, apenas a Baía tinha o seu Bispo, cujo poder abrangia todo o Brasil. Em 1676, surgiram três novas dioceses: Rio de Janeiro, Olinda e Maranhão, ascendendo a Arcebispo o Bispo da Baía. No século XVIII, aumenta o número de dioceses: Pará (1719), Mariana (1745), S. Paulo e Goiás (em 1745, mas com efectivação em 1782). O Maranhão e o Pará dependiam de Lisboa. Em resumo, nos finais do século XVIII, existia no Brasil um Arcebispo, o da Baía, cuja autoridade abrangia as capitanias de Sergipe, Baía e com supremacia sobre todo o Brasil; o Bispo do Pará, com autoridade sobre S. José do Rio Negro e Grão Pará; o Bispo de Maranhão, com poder sobre Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte; o Bispo de Olinda, com autoridade sobre Paraíba e Pernambuco; o Bispo do Rio de Janeiro, com autoridade sobre Espírito Santo; o Bispo de S. Paulo, com poder sobre Santa Catarina e Rio Grande de S. Pedro; o Bispo de Mariana, com jurisdição sobre Minas Gerais; o Bispo de Goiás e o Bispo de Cuiabá, com jurisdição sobre Mato Grosso.
No Pará, o quadro social e principalmente o rácico mostrava umas quantas particularidades. A maioria era aí constituída por índios cristianizados e por mamelucos ou caboclos (mestiços de branco e índio).
Em 1992, apareceu uma publicação do Senhor Doutor Luís A. de Oliveira Ramos, intitulada Diários das Visitas Pastorais no Pará de D. Frei Caetano Brandão, edição do Instituto Nacional de Investigação Científica.
Esta publicação reproduz os diários das quatro visitas pastorais realizadas pelo prelado em Belém do Pará, entre 2 de Julho de 1785 e 8 de Março de 1789. A leitura destas páginas é um vibrante fascínio. O Bispo do Pará regista as suas impressões durante a permanência na colónia nos finais do século XVIII, no termo dos últimos fulgores do ouro que alimentou uma centúria e que já não era senão uma ténue sombra.
O prelado concebe o mundo como um texto legível. É um texto místico de uma transcendente espiritualidade. Procura nos seres algo de diferente que aprofunde a sua significação.
Esta visão do mundo é dominada pelo princípio de que Deus está em tudo, cabendo ao leitor decifrar a linguagem que o configura: tudo o que é visível relaciona-se com o invisível, o audível com o inaudível, o sensível com o insensível e talvez o pensável com o impensável.
Num desafio à fadiga, às pragas, às intempéries, às doenças e epidemias, às agruras típicas, andou milhares de quilómetros na bacia e território do Amazonas, repartidos por quatro visitas pastorais e iluminados pelo dever pastoral. Aquela figura ascética, robusta, com um perfil bem definido, deixava transparecer a santa intrepidez com que desafiava os perigos em nome da glória divina. Durante essas viagens, teve tempo de registar as suas impressões, contra as omnímodas vicissitudes da navegação fluvial, contra a fúria dos elementos naturais e contra o incómodo das pragas e os ardores do clima. Que belas páginas literárias, por vezes suscitadas pela expressividade simbólica e mítica de ver a mão do criador em tudo. Outras informações são possíveis: sobre demografia, pastoral evangélica, economia, sociedade; pormenores sobre doenças e pragas, sobre a fauna e a flora; elementos de hidrografia, orografia; os insólitos da natureza, as tribos indígenas, as etnias, os usos e costumes e a geografia das produções.
Seria fastidiosa a transcrição de textos exemplificativos sobre todos estes parâmetros. Limitemo-nos a dois saborosos extractos. O primeiro relata alguns usos e costumes: «Trouxerão-me os índios certos talos de palmitos de huma arvore chamada assaim, assazmente tenros, e mimosos, de que mandei fazer hum esperregado para a cêa, a cousa mais excellente, que tenho provado deste genero» [10]. O segundo narra alguns insólitos da natureza [11]: «Entrámos no rio Cajarí, que he bastantemente comprido, e, como todos os mais, acompanhado de huma e outra margem de frescos arvoredos, que deleitão a vista: confesso que muitas vezes, alargando os olhos por aquellas situações tão apraziveis, bem desejei a pureza, e innocencia das almas justas, para poder à sua imitação subir por estes degrãos ás maiores alturas do ceo, e contemplar a amenidade daquelles jardins, formados pela mão do creador para eterno recreio dos escolhidos».
Nos Diários, as árvores estão presentes como símbolos de vida e de aproximação aos céus. Pelos Diários se constata que o Bispo do Pará teve oportunidade de verificar as nefastas consequências da expulsão dos jesuítas das terras brasileiras. Depois de observar as péssimas condições em que viviam as povoações de Penha Longa e Porto Salvo, o bispo comenta que estas preferem antes a liberdade do que a abundância que podem ter ao serviço dos brancos. As actividades mais pesadas eram entregues aos índios e escravos, porém, o exercício das pequenas actividades mercantis, sobretudo de vendedores ambulantes, descreve Caetano Brandão, estavam destinadas à emigração popular portuguesa. Esta comunidade, uma vez estabelecida, entregava-se, muitas vezes, aos vícios, particularmente, a incontinência. A leitura deste livro conduz-nos facilmente às palavras do Génesis, cap. 2, 8-15: «Iahweh Deus plantou um jardim no Éden, no Oriente, e aí colocou o homem que modelara. Iahweh Deus fez crescer do solo toda a espécie de árvores formosas de ver e boas de comer (...). Um rio saía do Éden para regar o jardim e de lá se dividia formando quatro braços. (...) Iahweh Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para o cultivar e guardar».
Foi o Brasil que, durante o século XVIII, trouxe a Portugal uma época de prosperidade, de desenvolvimento e de respeitabilidade no concerto das nações. No Brasil, Caetano Brandão foi pastor, encontrou terreno adequado à sua missão, descobriu formas de fazer bem ao próximo, lançou as linhas mestras da sua acção futura. Não era o bispo ostentoso fazendo acatar as galas da sua corte prelatícia. Começou pela reforma do seminário, que funcionava no paço episcopal, aumentou o número de vocações, redigiu os estatutos, aumentou o número de cadeiras e tratou de fiscalizar o ensino. Ia às aulas e saía em passeio com os educandos. Obteve do Ministro do Ultramar, Martinho de Mello e Castro, o espólio do seu antecessor, D. João Evangelista Pereira, para aplicação em benfeitorias no seminário. Fundou escolas de primeiras letras, instituiu uma confraria da caridade, fundou um Hospital e incrementou visitas pastorais.Lá encontrámos as primeiras sementes no campo da educação feminina. Uma pessoa (homem ou mulher), bem formada e informada, tem mais possibilidade de analisar a realidade com um olhar crítico mais humanizado, sendo um cidadão mais útil e mais interveniente. Por este princípio haveria que desenvolver e fomentar a educação e a instrução, sem olvidar as mulheres, sector prioritário do seu múnus.
Caetano Brandão foi daqueles que promoveu o diálogo intercultural, tendo em conta a mestiçagem étnica, a simbiose de valores morais, políticos e estéticos, o intercâmbio de saberes científicos. A evangelização transoceânica e transcontinental de Caetano Brandão tinha sempre em conta as culturas residentes e autóctones, num processo de aculturação permanente. A defesa dos direitos das comunidades nativas permite-lhe levar a cabo uma evangelização em que são respeitadas as diferentes formas de civilização. Os missionários portugueses foram dinâmicos agentes da difusão do cristianismo e da cultura europeia: Jesuítas, Franciscanos e Dominicanos levaram aos continentes africano, americano e asiático uma mensagem ecuménica, universalista, privilegiando as populações nativas, a liberdade racial, os modos de viver, pensar e sentir das populações.
O nome deste ínclito prelado está para sempre ligado à urbe bracarense, não apenas por seu nome estar patente numa rua [12], aberta em 1878, mas também por figurar entre os maiores, nas resenhas históricas da cidade dos arcebispos.
O sucesso da sua missão no Pará teve eco na corte. Não tardou que sua Ex.ª Rev.ma fosse transferido. Esta ordem foi encarada pelo franciscano, de modo resignado e realista: «se exceptuarmos o patriarchado, todos os outros bispados do reino juntos não pezão tanto como o bracarense» [13].
A nomeação, em 28 de Abril de 1789, pela Rainha D. Maria I para ocupar a cátedra bracarense, que vagara em 18 de Janeiro de 1789, deveu-se, essencialmente, à obra imorredoura que o prelado realizou durante o seu episcopado de oito anos no Brasil. Esta notícia chegou à Roma Portuguesa alguns dias depois, a 3 de Maio. A carta de 12 de Junho de 1789, da secretaria do Paço de D. Maria I, ao arcebispo eleito D. Frei Caetano Brandão, é explícita: Ex.mo e Rev.mo Snr. Sua Magestade manda remeter a S. Ex.Rev.ª as Letras Apostolicas incluzas da Confirmação que o Santo Padre Pio VI, ora Prezidente na Universal Igreja de Deos, fez da Nomeação e Apresentação da mesma Senhora para o provimento do Arcebispado de Braga, na digna Pessoa de S. Ex.ª transferindo-o da Santa Igreja do Pará, em que se achava provido e confirmado.
Ao mesmo tempo manda remeter a S. Ex.ª o Pallio, e as Breves de Indulgencias, Concessoens, e Faculdades espirituaes, que são do costume, e com elles a Bulla da Formula de Juramento, que S. Ex.ª ha-de prestar (...) [14]. Tendo saído de Belém do Pará a 9 de Setembro, chega à Casa Mãe da Ordem em Lisboa, em 20 de Outubro de 1789, logo mostrando interesse em trabalhar pela sua arquidiocese. Em 8 de Novembro de 1789, o cabido recebe uma carta do prelado e a 22 de Novembro de 1789 escreve ao Tribunal da Relação nestes termos: «Bem sabe Elle quanto he a minha insuficiencia para suster o pezo e manejar as rodas de hua maquina tão complicada e que incomparavelmente mais que o condutor do povo hebreu, eu tinha necessidade de hum congresso de homens sizudos e illustrados que unidos comigo em hum mesmo espirito contribuissem a facilitar-me o desempenho deste critico ministerio. Não duvidem Vossas merces que se a gloria de Braga dependesse somente de meus desejos e das minhas intençoens, nada seria mais bem fundado que a lisonjeira esperança que todos se prometem na presente translação, mas em fim são desejos descarnados de eficacia e por isso talves athe agora infrutiferos» [15].
Registe-se, igualmente, a Bula Romani Pontificis, de Pio VI a D. Frei Caetano Brandão, datada de 29 de Março de 1790, pela qual o transfere do bispado do Pará para o arcebispado de Braga [16]:
«In nomine Domini, Amen (...) Venerabili Fratri Cajetano Brandao Episcopo nuper Belemen de Pará in Archiepiscopum Bracharen electo salutem et aplicam beneditionem Romani Pontificis».
Com esta bula vieram mais oito, uma delas dirigida à Rainha.
Nos princípios de Junho de 1790, chegavam-lhe as Bulas de Confirmação e com elas o Pálio, que recebeu da mão do bispo e seu confessor D. José Maria de Melo.
Entrou em Braga, no dia 17 de Setembro de 1790, sexta-feira, entre as três e as quatro horas da tarde. Frei Caetano Brandão entrou pela Cruz de Pedra, acompanhado pela Nobreza, Meirinhos, Oficiais de Justiça, o Deão, Cónegos, familiares e seguiram até à Capela de S. Miguel-o-Anjo [17], onde o Cabido o esperava. Depois de paramentado de pontifical, incorporaram-se no cortejo o Cabido, Clero, Comunidades, Irmandades e Confrarias e seguiram até à Porta Nova, ricamente ornada pela Câmara, bem como todas as ruas e janelas da cidade. Da parte de dentro da muralha, em frente à fonte, a Câmara levantou um palco, onde se encontrava toda a vereação da Câmara, o Juiz de Fora, Ouvidores, Juizes de Órfãos, o Escrivão da Câmara. Ali lhe foram entregues as chaves da cidade. Em seguida, debaixo do pálio, todos, em procissão, dirigiram-se para a Sé [18]. Por fim, viria a recolher ao Paço dos Arcebispos, situado no Campo de Touros que, de entre as praças da velha urbe, era um lugar aprazível no coração da cidade, pela sua situação privilegiada: «O Campo dos Touros he huma praça em quadro, bem capaz e igual que fica para a banda dos paços do senhor Arcebispo (...) durante o tempo das festas esteve cercado de muitos palanques repartidos por ordem, para o Reverendo Cabido, dezembargo, Camara, por cuja conta se levantarão muitos mais para os hóspedes de fora, em que entrava gente da nobreza e ao pé da janela do Arcebispo estava outro particular para os parentes que o tinhão acompanhado» [19].
O arcebispo assistia da sua janela às cavalhadas, escaramuças, jogos de canas e torneios que o senado tinha organizado em sua honra, como era usual na entrada solene dos arcebispos, ou celebrações em honra da família real, não faltando os arcos triunfais, os castelos de fogo de artifício, os jogos de alcâncias com cavaleiros da cidade e da província.
Não obstante determinações suas em contrário, a cidade acolheu-o festivamente e passou a contar, não só com o pastor liberal e pobre no meio da grei empobrecida, mas também o grande mestre da solidariedade cristã, vulgarmente conhecida pelo nome sublime de amor. Dispensou as mordomias e criadagens, os carros puxados a urcos e as faustosas solenidades que se tornaram timbre da mitra.
Com Caetano Brandão renasceram as sempiternas quezílias com a mitra e o corpo capitular, pois estes não perdoam a perda dos seus príncipes, a falta do perfume da corte e a extinção do senhorio. A 19 de Julho de 1790, antes da saída de Lisboa, foi passada a Carta de Lei, segundo a qual no seu art. 30, se extinguiu a Relação que tinham os arcebispos, na qual se decidiam as causas não só eclesiásticas, mas cíveis e crimes, acabando, desde então, uma das principais prerrogativas do senhorio temporal do arcebispado bracarense. Mesmo assim, apesar da cessação senhorial, nunca se eximiu aos seus poderes, assumindo-se como um disciplinador. Veja-se a Provizam porque V. Ex.a ha por bem reduzir o off. de Depozitario g.al, a hua Administr.am de tres Deputados debâxo do Regulam.to, q. na m.ma se prescreve em conformid. das Leis do Reyno, na parte que he applicavel.
A mitra não se resignava com a perda do poder temporal dos prelados, nem com a pobreza evangélica e o afã catequético imprimidos pelo arcebispo: «este prelado veio despertar Braga do letargo em que jazia (...) (pois) não sabia muito que cousa era um pastor verdadeiramente bispo. Conhecia príncipes na verdade magníficos e benignos que queriam o bem, mas não se resolviam a segui-lo» [20].
Como exemplos destes confrontos, citemos os casos com o Deão Vilhena e o Deão Luís Furtado de Mendonça. Também alguns cidadãos manifestaram a sua animosidade. O Dr. Joaquim José dos Santos Pinheiro, Jurisconsulto e Deputado às cortes de 1820, morador na Rua Nova de Sousa, onde se encontra presentemente a Farmácia Rodrigues, pai da Senhora Ana Brandão Pereira, foi um dos que mais se opôs, responsabilizando o arcebispo pela renúncia que fizera do seu senhorio e poder temporal.
As suas ideias provocaram a ironia, o humor negro e foram recebidas friamente no meio bracarense. Sobre esta situação, o prelado prefere ver de cima e para cima, não se preocupando com o acessório, mas com os detalhes mais significativos. O seu posicionamento é de humildade, que raras vezes confunde com modéstia. A simplicidade deu-lhe a exacta dimensão dos seus projectos, das suas acções e das obrigações para com os homens e para com Deus.As recordações e as saudades desta cidade nunca foram grandes. Preferia a cela monacal ao Paço de Braga [21]. Por isso desfiou, muitas vezes, o rosário do seu inferno privado, não obstante a sua acção como reformador social ecoar junto às portas do paraíso.
Com certeza que tinha fragilidades e qualidades; mas terá sido mais odiado pelas suas qualidades - que sobressaem face à mediocridade - do que pelos defeitos. Por outro lado, foi um homem que defendeu e lutou por aquilo em que acreditava. Não procurava soluções pontuais, lutava por medidas e projectos com futuro.
Grandes prelados (no caso de Braga: D. Frei Diogo da Silva, D. Frei Aleixo de Meneses, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, D. Frei Miguel da Madre de Deus e D. Frei Caetano Brandão) serviram-se do missionarismo como campo de ensaio pastoral.
Caetano Brandão teria um conceito regalista, ou um conceito baseado na escritura e na patrística de pastoral? - questão levantada pelo franciscano António de Sousa Araújo, grande conhecedor da obra do prelado bracarense [22].
Para este, a pastoral passava pelo esclarecimento, pelo incutir confiança e, sobretudo, por sentir a mensagem cristã no meio dos paradoxos do filosofismo. Deste modo, os pastores, sempre acompanhados pelo exemplo e pelo testemunho, deveriam instruir, esclarecer, tendo em conta a doutrina sã e ortodoxa, a doutrina da escritura e da patrística: «Mandou por hum edital para que todos os Parochos estivessem prontos para serem examinados (...) porem não esteve muitos dias por que logo apareceu rasgado e teve por isso muitas contradisois por os concílios determinarem o contrario» [23].
A sua preocupação era dotar as paróquias de sacerdotes dignos, ilustrados, cooperadores, obreiros, medianeiros, embaixadores, deuses da terra, presbíteros do povo, exemplos vivos. Refere o franciscano António de Sousa Araújo: dá a impressão que estamos a ler passagens dos documentos do Concílio Vaticano II.
A pastoral caetaniana era abertamente intervencionista, no domínio social, aquela que reclamava a época das luzes. Justifica-se, portanto, a sua intenção de formar ministros sábios e ilustrados, detentores não de uma ciência vazia, que inspirem o combate à inércia, ao obscurantismo e à inutilidade. Tarefa bem difícil. O prelado deixava transpirar no seu múnus pastoral em Braga, algumas dificuldades: «Eu que me queixava do Pará, mas em comparação de Braga fica a perder de vista, é a cabeça a andar sempre em urgir de negócios, vendo como há-de dar providência a todos, porque todos a reclamam à porfia».
A cidade (Braga), sempre de ferro em brasa, era uma máquina complicadíssima, que nem andava, nem deixava andar, como rodas sempre a desconjuntar-se. Vai compor-se uma roda, desanda outra: é estar sempre em contínua fadiga e sobretudo como quem tem o garrote na garganta.
Nas classes privadas de bens materiais e na mendicidade, encontrava o seu campo de acção. Lutava pela dignificação do ser humano, sem procurar estigmatizá-lo.
Caetano Brandão era um oceano de bondade, um fluxo e refluxo de grandes marés em direcção do outro, do outro eu, um eu sem recursos, a que urgia recorrer e ensinar a pescar. Não tem mãos a medir para que o esforço resulte em grandes obras de instrução e caridade, o serviço se faça e a realidade não desmereça o sonho. Travou consigo exigentes testes, para materializar os seus sonhos, alguns deles imponentes marcos de lusitanidade aquém e além mar.
No livro Diários das Visitas Pastorais no Pará de D. Fr. Caetano Brandão, o Doutor Oliveira Ramos escreve: «Uma vez instalado em Braga (1790), varreu o fausto pação e a familiarquia (o vocábulo é do tempo) que cercava D. Gaspar, visitou, sem olhar a gradações hierárquicas, altos clérigos e obscuros seminaristas, nobres e doentes. Trouxe para junto de si os deserdados e as crianças carecidas de educação. Continuou a trajar como frade, deu-se intensamente à caridade. Quando das suas frequentes visitas à diocese, hospedou-se em conventos e paróquias, viveu com religiosos e abades rurais, quis pagar as suas despesas e as do seu séquito» [24].
As gentes do Norte, debaixo da sua protecção paternal, prezaram as suas visitas, a sua acção evangelizadora, o grande orador sagrado, as suas virtudes, o seu trato, as suas iniciativas. Na província (onde foi por treze vezes, num espaço de 15 anos, num desafio constante à fadiga), pregava, confessava, crismava, abeirava-se das pessoas e procurava informar-se da vitalidade religiosa, social e económica das povoações.
Após o seu desaparecimento físico, o cabido bracarense ficou com alguns assuntos pendentes que revelavam determinadas orientações do prelado. Para solucionar estas questões dirigiu-se, em ofício datado de 26 de Dezembro de 1805, a S.M. colocando aquelas dúvidas e outras sobre o futuro da instituição: a Mitra deveria continuar a custear as despesas de 4 alunos que saíram do colégio para frequentar a Universidade; a Mitra deveria pagar a três mestres de Teologia Moral e Retórica, à razão de 100$000 rs cada um, para terem no Seminário de S. Pedro as respectivas matérias; a Mitra deveria continuar a distribuir os subsídios instituídos por D. Frei Caetano Brandão, nomeadamente um de 25$600 rs ao Hospital; e que fazer ao presbítero francês, tão pobre e desgraçado da sua sorte, mas de exemplar comportamento. Em nosso entender, estas diligências perfeitamente desnecessárias, estavam contempladas no Testamento [25]de D. Frei Caetano Brandão de 26 de Julho de 1795.
No Livro de Óbitos da freguesia de S.ta Maria Maior da Sé Primaz, desta cidade, com princípio em 1784 e término em 1813, a fl. 160V e seguintes, encontrámos o assento de óbito, documento valioso que relata os seus últimos dias, sufrágios, funeral e exéquias.[1]
Não temos a pretensão de elaborar uma biografia do prelado. Esta pode ser consultada na nossa obra Pensamento Social e Pedagógico de D. Frei Caetano Brandão. Também a bibliografia, inserida no final desta publicação, procura completar a existente no livro atrás citado.
Após a conclusão desta investigação tomámos conhecimento, com regozijo, de duas notícias. A primeira foi a publicação do livro D. Frei Caetano Brandão: O reformador contestado, de José Paulo Abreu, Braga, 1997. Na pág. 97 do referido livro, deve alterar-se a data do 2.º casamento da mãe do arcebispo. A certidão de casamento é explícita: 18/10/1743. A segunda tem a ver com o Desp. n.º 9529/97, 2.ª série, publicado no D.R. n.º 244 de 21/10/1997. Nele pode ler-se: «A Escola dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico de Maximinos, Braga, passa a denominar-se Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos Frei Caetano Brandão, Braga».
[2] Com o nome de Caetano José Brandão, através do Arquivo Geral da Universidade de Coimbra, vêmo-lo matriculado em Instituta a 1/10/1756 (Liv. 74, fol. 321 V.) e em Cânones a 1/10/1757 (Liv. 75, fol. 78 V.) e 1/10/1758 (Liv. 76, fol. 73 V.). Sob o nome de Caetano da Anunciação, que usou em religião, vêmo-lo matriculado em Teologia a 1/10/1763 (Liv. 81, fol. 8); 1/10/1764 (Liv. 82, fol. 8); 1/10/1765 (Liv. 83, fol. 8); 1/10/1766 (Liv. 84, fol. 7); 1/10/1767 (Liv. 85, fol. 4); 1/10/1768 (Liv. 86, fol. 5). Sobre exames fez a 1.ª Tentativa a 19/1/1768 (Liv. 102, fol. 11V.); a 2.ª Tentativa a 17/3/1768 (Liv. 102, fol. 12); o 2.º Princípio a 6/6/1768 (Liv. 102, fol. 28) e a Formatura em 29/11/1768 (Liv. 103, fol. 9); cf. Luís A. Oliveira Ramos, Diários das Visitas Pastorais no Pará de D. Fr. Caetano Brandão, Lisboa, Imprensa Nacional, 1991, p. 8.
[3] «Pastoral primeira, com que sua excellencia sauda os seus subditos do Pará», in Pastoraes e outras obras do veneravel D. Frei Caetano Brandão, Lisboa, Impressao Regia, 1824, p. 107.
[4] in Pastoraes e outras obras do veneravel D. Frei Caetano Brandão, Lisboa, impressao Regia, 1824.
[5] Ibidem, p. 48.
[6] Ibidem, p. 34.
[7] Ibidem, pp. 104-105.
[8] Ibidem, p. 117.
[9] A. Caetano do Amaral, Memórias, tomo II, 2.ª ed., p. 90.
[10] P.38.
[11] P.47.
[12] Manuel António Braga da Cruz, Braga no ano de 1882, Braga, 1980, Separata da Revista Braccara Augusta, vol. XXXIV, fasc. 78 (91), Julho e Dezembro de 1980.
[13] Memórias, vol. II, 2.ª ed., 1867, p. 93.
[14] Col. Cronológica, doc. 3256, ADB-UM.
[15] Inácio J. Peixoto, Memórias, Manuscrito do ADB-UM.
[16] Caixa das Bulas, doc. 387, ADB-UM.
[17] Nesta capela os arcebispos bracarenses revestiam-se de vestes sagradas e daqui partiam para a Sé, aquando da sua entronização na arquidiocese. De arquitectura simples, está situada na Rua Cardoso Avelino, na freguesia de Maximinos, onde foi reedificada após a vereação de 1841 ter ordenado a sua demolição. Achava-se outrora junto da Porta de Maximinos, fronteira à Sé, no preciso local em que tinha sido fundada no ano de 1591. Em 1743, instalaram-se nesta capela as confrarias de S. Lourenço e de Nossa Senhora da Purificação; em 1744, a confraria de Nossa Senhora do Ó; em 1751, a de Nossa Senhora das Graças; em 1765, a de Nossa Senhora do Amor; em 1772, a de S. José no Presépio; em 1781, a de Nossa Senhora da Paz; em 1785, a das Almas e de S. Nicolau. Em 1900, esta capela foi demolida e transferida para o seu actual local, para dar lugar à Avenida S. Miguel-o-Anjo, que fica entre o Campo das Hortas e as Carvalheiras.
[18] Livro Curioso, que contem as principais novidades sucedidas do dizcurso de 35 annos principiando pelo de 1755 até 1790, tomo I, fls. 678 a 680, ms 341, ADB-UM.
[19] Relação do Recebimento e Festas que se fizerão na Augusta Cidade de Braga a entrada do ilustrissimo e Reverendissimo Senhor Dom Rodrigo da Cunha, Arcebispo e Senhor Primas das Hespanhas, Impresso em Braga por Fructuoso Lourenço de Basto, 1627, BNL.
[20] Inácio J. Peixoto, Memórias, Manuscrito do ADB, cf. Memórias particulares de Inácio José Peixoto, Coord. de Viriato José Capela, Braga, ADB, 1992, p.115.
[21] Memórias, vol. II, 2.ª ed., 1867, p. 297.
[22] Itinerarium, n.º 143-144, 1992, pp. 309-335.
[23] Livro Curioso, que contem as principais novidades sucedidas do dizcurso de 35 annos principiando pelo de 1755 até 1790, tomo I, fl. 698, ms 341, ADB-UM.
[24] p. 10.
[25] Publicado na íntegra em O Constituinte de 20/12/1882.